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Digitalizar para ensinar melhor

Escolas preparadas, professores capacitados, alunos prontos para o futuro. É este o rumo que a educação tem de tomar.

Para educar para o futuro é necessário trazer para o presente os desafios, antecipando as necessidades e munindo crianças e jovens para virem a ser peças importantes na digitalização mundial, seja através da literacia digital ou da capacitação para a investigação e desenvolvimento. O contacto prematuro com as tecnologias pode significar adultos mais capazes.

Assim, na dimensão Transição Digital do PRR, estão previstos reformas e investimentos para a digitalização de diversas áreas da sociedade, entre elas, a Educação. A componente Escola Digital tem como principal objetivo gerar condições para a inovação, tanto educativa como pedagógica, através do desenvolvimento de competências em tecnologias digitais e a modernização do sistema educativo. A reforma para a educação digital, prevista nesta componente, surgiu da necessidade de adaptar os currículos e as formas de ensino “aos novos paradigmas da sociedade do conhecimento e da informação e de corresponder às novas e futuras necessidades do mercado de trabalho”, como explica o PRR.

A pandemia de COVID-19 trouxe à luz do dia a insuficiência de competências e meios digitais, sobretudo no ensino à distância. Um relatório do Tribunal de Contas, de julho de 2021, sobre “O ensino à distância e a digitalização nas escolas durante a pandemia”, refere que, durante a pandemia, a falta de meios digitais foi o obstáculo mais significativo neste tipo de ensino. E isto aconteceu tanto do lado dos professores como dos alunos. E conclui que, apesar de essa falta ter sido mitigada por apoios (em forma de doação e/ou empréstimos), por parte das autarquias locais, associações e entidades privadas, “não foi solucionada, subsistindo um número não quantificado de alunos sem os meios apropriados”. Assim, esta reforma passa pelas infraestruturas de educação e equipamentos didáticos e tecnológicos existentes,

pela digitalização de conteúdos pedagógicos e avaliativos e também por dotar o pessoal docente de competências digitais. Nuno Crato, Professor Catedrático no ISEG e antigo Ministro da Educação e Ciência, considera que os fundos “são sempre bem-vindos”, mas que “mais importante do que virem fundos é saber utilizá-los naquilo em que são úteis. Em Educação, isso é muito evidente”. Defendendo a ideia de que “a Educação melhora sobretudo com recursos humanos bem orientados”, aponta melhorias que devem ser realizadas nesta área, como as “condições dos edifícios, que continuam, em muitas escolas, com deficiências sérias”. E, apesar de referir que “muitos fundos irão para os prometidos computadores, que continuam a faltar”, Nuno Crato defende que é ainda mais importante “seguir um currículo estruturado e ambicioso”.

Os investimentos previstos

Mas não são só os computadores que estão incluídos nesta componente. Os investimentos previstos, num total de 559 milhões de euros, são três: o “Programa de aceleração da digitalização da Educação na Região Autónoma da Madeira”, com 21 milhões de euros alocados, pretende impulsionar uma estratégia que implemente e desenvolva recursos digitais, educativos e tecnológicos. Um programa que visa os alunos, mas também os professores, promovendo a formação em Competências Digitais, assim como as escolas, com melhores ligações à internet.

O “Educação digital (Região Autónoma dos Açores)”, com 38 milhões de euros, visa garantir o acesso à “sociedade de informação”, promover a igualdade de oportunidades e melhorar os meios de aprendizagem, fomentando o desenvolvimento de competências “das novas gerações de açorianos”. Este investimento envolve também professores e encarregados de educação, através da sua mobilização e do seu desenvolvimento profissional.

Já a “Transição digital na Educação” tem 500 mil euros alocados. Para este investimento já foi assinada a contratualização de 272 milhões de euros, em setembro de 2021. Pretende remover obstáculos no acesso a internet de qualidade em ambiente escolar, criar condições para a melhoria e a utilização generalizada de recursos educativos digitais, entre outras medidas, que criam condições para que o processo de transição digital no sistema educativo seja bem-sucedido.

Durante a pandemia, a falta de meios digitais foi o obstáculo mais significativo ao ensino à distância e à manutenção da rotina educativa das crianças e dos jovens portugueses

O Ensino Superior não está contemplado nesta componente. No entanto, quando questionado se estes investimentos poderão beneficiar também este tipo de Ensino, através de alunos mais bem preparados, o Reitor da Universidade do Porto, António de Sousa Pereira, afirmou que “tudo o que concorrer para estimular o estudo, melhorar o desempenho escolar e expandir os horizontes do conhecimento dos estudantes do Ensino Secundário tem reflexos positivos no Ensino Superior”. Para o Reitor, o “sucesso escolar no Ensino Superior deve ser promovido logo a partir do Ensino Secundário, o que exige uma maior articulação entre estes dois graus de ensino”. Referindo-se em específico às competências em tecnologias digitais, António de Sousa Pereira refere que lhe parece “de extrema importância que os estudantes cheguem ao Ensino Superior com um bom domínio das novas tecnologias”.